texto escrito e publicado originalmente em 4 de maio de 2010

Domingo último fui no Mulheres de Chico, tipo um bloco de carnaval que refaz as músicas do Chico Buarque em forma de axé e outros ritmos negros de uma forma lindaça. Dançante mesmo, de arriscar um passinho e mexer o corpo pra quem não é de arriscar passinhos e mexer o corpo.

Vou lá eu e uma amiga minha, Ju, e a amiga dela que aos poucos vai ficando minha também, Joana. A Ju tem o melhor sorriso do mundo, que me fez apaixonar e ficar atrás dela por uns anos, 2, acho, até contar numa noite na Lapa que era lésbica e me levar as lágrimas “não, to pensando em outra coisa” disse quando quis me confortar. Hahaha, caralho, talvez até estivesse. Engraçado que continuamos saindo juntos mas só de uns meses pra cá que realmente começamos a ficar amigos mesmo. Rola isso não é? Umas saídas por comodidade, por sair pros mesmos lugares e a gente nem conhece as pessoas direito. Conhecer e não conhecer. É um troço doido, tipo um carinho que vai se conquistando aos poucos, e vai se conquistando por toda a vida. Acho que até penso que quando tudo se for, vai sobrar eu e ela, mas torço com coração que apareça mais gente nessa equação.

Aí subi Santa, atrás dela, toquei o interfone, vi uma família subindo e uma menininha reclamando se demorava muito pra chegar em casa, porque não só de hippies e artistas vive Santa Teresa. Ela saiu de casa e nos abraçamos e fomos subindo, com ela falando do evento que é Santa de Portas Abertas, que, segundo ela, foi tucanado e virou só uma oportunidade de ganhar dinheiro. A Ju tem dessas, tem um lado meio indie e descobre umas coisas fodas que só ela consegue. Volta e meia ela surge com umas paradas fodas do nada, e tá completamente certa, é foda sim. Aí subimos e ela conta da noite anterior enquanto a gente espera a Joana, que tá sempre atrasada e bebemos a Itaipava de 1,50 da Van ali na frente. E ela pega mais mulher do que eu, porque geral pega mais mulher do que eu. Pra situar o ambiente imagina uma praça com bancos e mesas de pedra e uma galera bebendo, uns carros estacionados e duas pessoas, eu e ela bebendo e conversando sentados numa calçada esperando a noite começar. Ela conta a história dela, que não é de interesse de vocês, e a Joana chega, uma neguinha que não dá margem pra ninguém, esperta, que anda com a cabeça meio erguida (não totalmente pra não ser metida, mas não baixa pra ninguém) e um black responsa. Bonita, reparei nela direito pela primeira vez quando falou antes, num desses Cine-Cachaças da vida, “Sou negra mas sou limpa” (e foi nesse que acabei com o restante da cachaça dela, pro desespero da menina, porque é o que eu faço e realmente tenho que parar com essa vida).

Aí fomos lá e dançamos. Lugar lotado e não dá pra entender o que tão cantando, mas a gente dança, né? Porque do que a gente entende, dá pra dançar fácil. Encontramos Janaína, uma menina bonita, de olhos azuis, mas que tá sempre com pressa pra algum lugar, sempre com problema pra resolver, e que no dia anterior tinha me convidado pra ir na Feirinha de São Cristóvão mas teve que partir cedo por problemas não resolvidos (acho que homem). Tenho vontade de dizer pra ela se enlerdar uma pouco, acalmar, que pressa não leva a nada (mas talvez a certa seja ela, no final das contas). Peguei o Intermintências da Morte, do Saramago, com ela que e é mais do que disse que era “Um estudo da reação da sociedade quando a morte acaba”. E as meninas apontam que ela tá sempre envolvida com esses homens meio, ahn, meio-homens, do tipo frouxo, acho, fico com vontade de apontar “eles a fazem rir” mas fico na minha.

Depois partimos e fomos atrás da boa e paramos na Fatinha, que tava rolando um samba e bebemos do lado de fora pra não pagar o couvert artístico e depois da primeira cerveja, que somada com o conhaque não-mencionado de antes, me faz mandar a real: – A boa foi a gente ter ficado aqui.

E ficamos por ali, bebemos, e as coisas se animam. O samba que tá rolando no bar faz a gente dançar e tem duas meninas dançando ali longe, escondidas atrás de um carro e vou lá e puxo elas pra dançar perto.

(isso tava no meu e-mail faz um tempão, era pra eu continuar o texto mas agora não lembro mais da continuação dele… fica só isso então)